Um sincero e querido irmão da igreja Batista me solicitou explicação sobre Romanos 14. Decidi repartir também com você um breve estudo desse capítulo para que possa compreender a essência da mensagem de Paulo.
Romanos 14 precisa ser compreendido especialmente com o auxílio de 1Co 8:4 (Leia tais versos em sua Bíblia). Como as duas cartas foram escritas na mesma década (1 Coríntios por volta de 54 d.C e, Romanos, 55 ou 56 d.C) e tratam do mesmo assunto, veremos que a mensagem do apóstolo lida com problemas específicos daquela época.
Quando Paulo afirma em Romanos 14:2 que “o débil come legumes”, essa expressão precisa ser compreendida à luz de 1Co 8:4, que diz:
“No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus.”
Assim como os Corintos, os da igreja de Roma estavam com medo de comer carnes que tivessem sido sacrificadas em templos pagãos. Havia pessoas que estavam com tanto temor que elas só comiam “legumes”. Desse modo, no verso 2 de Romanos 14 Paulo está dizendo: “o débil tem tanto medo de comer carnes que possam ter sido sacrificadas a ídolos que chega a comer só legumes”.
O apóstolo não poderia estar aqui condenando a dieta vegetariana que é a ideal segundo a Bíblia (Gn 1:29) e muito menos dando permissão para comermos alimentos imundos (Lv 11; Dt 14), sendo que o próprio Paulo nunca comeu tais carnes (At 25:8).
Ele mesmo ensinou que nosso corpo é o santuário do Espírito Santo (1Co 3:16, 17; 6:19, 20) e que, por isso, devemos cuidar de nossa saúde física, comendo de maneira que o Espírito seja glorificado (1Co 10:31). Glorificamos a Deus em nossa comida quando não comemos alimentos imundos (e outros alimentos impróprios) e não somos glutões.
Se não fugirmos do conceito bíblico de “holismo” – ou seja, que a natureza humana é holística, um todo inseparável (1Ts 5:23, 24), não teremos dificuldades em aceitar que a Bíblia proíbe o uso de alimentos imundos.
Isso por que, sendo que existe uma íntima relação entre a mente e o corpo (isso é comprovado pela ciência), é óbvio que aquilo que comemos irá influenciar também em nosso estado mental-espiritual! Precisamos estar com o corpo saudável para prestarmos uma melhor adoração a Deus (e vice-versa).
Romanos 14:5 e a guarda do sábado
Já em Romanos 14:5 Paulo não está sendo contra a observância do sábado (se o tivesse, estaria condenando até mesmo a guarda do domingo). Alguns cristãos pensam que ele insinuou que cada pessoa deve “escolher o dia de guarda”, mas, isso está longe de ser verdade. Se cada um “faz a própria sua verdade”, a lei de Deus viraria uma bagunça e poderíamos justificar até mesmo o dia sagrado dos muçulmanos: a sexta-feira.
Até mesmo o observador do domingo Russel N. Champlin reconhece que não é possível provar que a guarda do sábado esteja sendo questionada aqui: “Não dispomos de meios para julgar, com base neste texto, nem com toda a certeza, se Paulo queria incluir ou não o sábado na lista dos vários dias especiais que os irmãos ‘débeis na fé’ insistiam em observar”. (O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. 3, p. 839)
Entendemos Romanos 14:5 lendo o verso 6:
“Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus.”
Perceba que a distinção entre “dias” está relacionada ao “comer”! Desse modo, a questão aqui é os “dias de jejuns” e não a santificação do sábado. Havia uma discordância entre eles quanto ao dia correto de se jejuar.
O Didaquê – escrito judaico do primeiro século (alguns creem que foi escrito antes) nos mostra que havia mesmo essa controvérsia no meio cristão. Veja:
“Os seus jejuns não devem coincidir com os dos hipócritas. Eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana. Porém, você deve jejuar no quarto dia e no dia da preparação [sexta-feira]” – Didaquê 8:1.
Por isso, Paulo estaria dizendo em Romanos 14:5 o seguinte: “Um faz diferença entre dia e dia para jejuar; outro julga iguais [“iguais” não se encontra no original grego] todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente e jejue nos dias que achar melhor.”
Perceba que o verso 6 interpreta o verso 5 de Romanos 14, de modo que não precisamos colocar no texto ideias alheias a ele. Além disso, o Didaquê (mesmo não sendo regra de fé) nos ajuda a entendermos alguns problemas que os cristãos enfrentaram durante sua história. Nesse caso, quanto aos dias corretos para se jejuar.
Outra evidência de que em Romanos 14:5 Paulo não estava tratando dos dias de guarda vemos em sua atitude de guardar o sábado mesmo longe dos judeus (At 16:13). Naquele território romano ele tinha a oportunidade de dizer que o dia de guarda foi abolido, mas, não o fez. Pelo contrário: santificou o sétimo dia em meio à natureza – como todo o cristão deveria fazer:
“No sábado [não no domingo], saímos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração [adoração a Deus em meio à natureza]; e, assentando-nos, falamos às mulheres [dia para falarmos do amor de Deus] que para ali tinham concorrido.” (At 16:13)
Que lindo exemplo de adoração o apóstolo nos deixou! Que dica ele nos deixou para guardarmos o sábado de maneira agradável e não legalista!
Espero que essas considerações lhe ajudem na compreensão de Romanos 14. Imprima-as para que os irmãos e o pastor de sua igreja leiam. Creio que será benéfico a eles também.
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